“…eu costumo brincar que eu comecei sendo disciplinar, depois eu fui multidisciplinar, depois eu fui interdisciplinar, depois eu fui transdisciplinar e atualmente eu sou indisciplinado.” (Marcus Matraga)
Com muita alegria, o Instituto Silvia Lane lança hoje, no dia 04 de março, o Projeto ‘Palavra indisciplinada’. O dia de hoje marca o nascimento de Marcus Vinícius, e como forma de homenageá-lo, damos início ao compartilhar de poemas escritos por ele.
Para além de psicólogo, professor, pensador e militante na luta por direitos humanos (ou como parte integrante de tudo isso), Marcus era poeta. Através da palavra ao mesmo tempo delicada, forte e indisciplinada, “cometeu” poesia, em legítima defesa frente aos enigmas que o interpelavam.
O Instituto Silvia Lane prepara este projeto com o convite a parceiras/os/es e amigas/os/es para emprestarem sua voz às palavras indisciplinadas, para que ecoem com vivacidade, tal como é a memória: movente e pulsante.
Quem inicia emprestando sua voz é Ana Bock, para o poema Dessimétrico!
Clique aqui e confira o primeiro vídeo do Projeto na voz de Ana Bock
“Eu sou assim mesmo: dessimétrico!
Entre a intenção e o gesto,
uma avenida larga de vida me leva…
E olhando pra trás encabulado, te aceno,
com esta tibieza que me faz flácido
e que, no descuido, desaponta aos amigos.
Eu não tenho desculpas, justificativas ou coisas tais…
Motivos eu até tenho.
Não para fazer o que eu, não fazendo, faço!
Mas para mil vezes, fazer que não fiz.
E então eu lhe pergunto: o que me resta fazer agora,
se não o fiz quando o quis? A Inês já é morta?
Estarei definitivamente condenado
por este meu jeito danado
que nem eu mesmo escolhi?
Se sobrevivem-me amigos devo-lhes sempre
a sua imerecida generosidade,
dos cuidados que eu não tive,
contas que jamais poderei pagar.
Se o prego do teu coração-botequim
ainda tiver um espaço, um espaçozinho assim,
mesmo que seja bem pequeninim,
apesar de tanta conta, que eu sei
e que você também sabe-
que eu nunca hei de pagar: mais uma vez eu tropeço,
mais uma vez eu te peço:
arranje um lugarzinho pra mim.
Pendure mais essa!
Por favor finja de novo que acredita
que um dia eu vou tomar jeito
que eu viro gente direita
que nunca mais vou te decepcionar.
Não deixe morrer, não deixe matar.
Insista, persista, sou devedor confesso:
você nada tem a ganhar.
Coloco-me em suas mãos:
não me expulse do seu coração!
Não deixe essa minha estranha amizade cair no chão!
E suplicante te peço: bota mais uma pra mim, bote mais uma.
Por favor, amiga, mais umazinha assim!
Matraga