Uma estranha calma me invade
quando beijo a esquina da sua boca,
ali, onde os seus lábios vão se encontrar.
E nela me deixo ficar demorado,
seguindo um fio que me leva ao limbo,
ou as escadarias do céu, não sei muito bem,
mas sei que é muito bom.
Reside naquele ponto um mistério,
que é o mistério das esquinas,
do mesmo tipo que encontro
quando topógrafo pelado
com a vista larga demarco,
desde o alto da colina,
o falso risco que corta a sua virilha,
e separa o travesseiro macio do púbis
das duas avenidas largas e suaves
onde fronteira não sei situar:
são as sua coxas grossas que começam
ou suas longas pernas que terminam?
Amo essas suas esquinas, menina,
oh, como as amo!
Onde as coisas são,
e ao mesmo tempo não são,
e nelas gosto de estar.
Amo essas suas confluências,
lugares de maciez permanente
suavidade de textura
calor morno, quase molhado
onde o liso e o doce convidam
para a ruína do tempo
e para a perda definitiva
de qualquer perspectiva.