Retirem-se as crianças da sala e também aos puritanos
pois o poema abaixo contém elementos que podem
ofender sensibilidades moralistas
Boceta não tem fundo!
Ensina-me, num fim de tarde
num café grego, em Atenas,
com elegância, a amiga.
Traduz sabedoria ancestral
herdada do bom senso do avô.
Paciente, explica e esclarece,
essa singela verdade,
masculinamente ignorada,
por nós, tantos e vários varões,
saltitantes de uma para outra
buscadores dessa quimera
o fundo fundo de uma mulher.
Não tem fundo, insiste ela,
não adianta procurar!
Mulher é bicho ôco,
todas elas e qualquer uma,
ainda que nem sempre o saibam
e finjam outras ignorar.
Boceta é abismo e precipício
pra mergulhar com coragem
sem ter medo de morrer.
Não tem fundo!
Quanto tempo perdido, reflito
na pressa masculina de ali se instalar
causados da ansiedade de fundo,
no fundo da mulher não encontrar.
Onde começa, onde acaba este ser
túnel que se perfura todo dia
ontem, hoje, amanhã
num eterno recomeçar.
Quanta ilusão destilada,
quanto medo de errar
quantas mulheres esquecidas
distantes elas mesmas
de sua verdade elementar.
Não tem fundo !
Boceta não tem fundo,
repete a amiga,
não adianta procurar.
Se acalmem todos os homens
mulheres, não há porque se envergonhar
não ter fundo não é defeito
fonte do profundo mistério,
impossível, mulher decifrar.