Ana Bock

matraga homenagens fevereiro 7, 2018

Nós, aqueles que convivemos mais de perto com Marcus, sabemos o que o dia de hoje significará para a Psicologia brasileira, para a luta antimanicomial, para a América Latina. Marcus era um militante e como tal sempre pediu que não assinássemos as ideias, pois elas não tinham, segundo ele, qualquer chance de serem individuais. Quando elogiávamos seus projetos, ele dizia: não fosse a interlocução com vocês, eu não teria tido esta ideia. E isto justificava pensar os projetos sempre como coletivos. Mas Marcus foi, sem dúvida, o idealizador de um novo conselho de psicologia; de uma nova profissão; de um novo compromisso com a sociedade brasileira. Era um estrategista político dos mais capazes. Reuniu a psicologia e os direitos humanos; arrombou os limites de uma profissão estreita e elitista; entendeu que o Conselho de Psicologia precisava deixar pra trás a sua história como um órgão corporativista, gerido de forma mesquinha, simplória e personalista. Marcus projetou o salto que a psicologia precisava e deu nos anos 2000. Escolheu viver em uma comunidade negra (um quilombo moderno) e ali lutou pelos direitos daquela gente. Nunca abandonou os projetos da psicologia e fez isto, conosco, no Instituto Silvia Lane. Nunca abandonou a luta antimanicomial. Nunca deixou de se pensar como cidadão e psicólogo desta América Latina. São muitos os projetos que carregam a marca de Marcus. Nós, amigos de sempre e quem mais vier, nos encarregaremos de registrar na história da psicologia brasileira a presença de Marcus Vinicius de Oliveira Silva. Adeus Matraga. Teremos muita dificuldade de viver sem você.