Das artes da pequenez humana…

matraga poesias fevereiro 7, 2018

Ah, homem pequeno, eu te conheço bem.
Já fui como tu. Já padeci de tua pequenez.
Conheço este teu espírito vazio.
Conheço essa sombra que te ronda.
Sei do medo que te consome e como reages mal a ele.
Sei do teu ímpeto em fazer parar a vida, só porque não a compreendes.
Sei da angustia que te causa tudo que é movimento e complexidade.
Gostas das coisas simples e lineares,
mesmo quando essa versão já não corresponde exatamente aos fatos.
Sei da tua fúria a querer controlar o gozo alheio porque tens medo que ele te possua e que,
sem auto-controle, morras de tanto gozar.
Sei o quanto te sentes medíocre e desprezível na voracidade da tua fome em busca de poder,
ou da tua necessidade incessante em te fazeres parecer que és maior do que és e que tens alguma importância própria.
Ah, homem pequeno, sei que os da tua espécie multiplicam-se como os ratos do esgoto,
dominam todas as instituições e são os que melhor se dão, nos negócios do mundo.
Não tens apreço verdadeiro pela honra, pela dignidade, pela verdade.
Estes artigos, em tuas mãos, são sempre falsos brilhantes mestre que és do embuste e da falsificação.
Sei da confraria que te faz ávido da companhia daqueles que são da tua estatura.
E como se protegem uns aos outros sempre com dedos em ristes a acusar o
s que brilham por alguma luz própria e desdenham da tua cartilha ensebada.
Gostas de te pensar a tu próprio como se fosses um vencedor,
mas tu o sabes, no fundo de tua alma,
que és um derrotado de princípios, mesmo quando logras,
através da arte do engano obter alguma matéria de valor.
O caminho para crescer homem pequeno eu posso te ensinar,
ainda que duvido se me prestarás atenção,
tal te comprazes em ser este ser pequeno que tu és.
Tome um espelho, destes, de tamanho bem grande,
coloca-te diante dele e suporte o sofrimento que te infringirá a imagem que tens diante de ti.
Aceite a derrocada de toda ilusão,
converta-te no mero e mísero ser que sendo o que és,
é o que podes ser.
Repita dia após dia, com insistência tal tipo de operação.
Renda-te a dor.
Deixe-te perder na confusão do não ser, até perceber o que resistiu, o que sobrou.
Tome esta semente pequena e vê que, diminuta, ela contem alguma luz.
Te convertas, tu, que agora finalmente sabes que és um nada, em útero gerador deste novo ser.
E quando cresceres, serás como a mim,
que te olho assim em tua pequenez,
não com desprezo ou ódio,
mas paciência e compreensão…
Vá! Busca o espelho agora mesmo… E te ponhas a trabalhar!