Eu sonhei que virias, quando eu menos esperasse
e que, de longe, nem de longe, desta parte,
fosses tão pouco parecida, com alguém,
que eu pudesse imaginar que eras tu,
nem ao menos que eu soubesse
do tanto que serias para mim tão bem-vinda!
E por assim sê-la, estranha, em tua chegada,
tu não me enganarias, querida inesperada
e que, só por isso, eu a reconheceria como tal.
Eu sonhei que seria assim:
que falaríamos de tudo
e não teríamos segredo…
Que riríamos sem medo
de todas as assombrações…
Eu sonhei com prosas intermináveis.
Com um gosto tão grande de estar por perto
que a saudade até se tornasse um estado normal
que cada momento, marcado pelo inexplicável
e pelo mágico do instante cúmplice,
trouxesse todo o bem e afastasse todo o mal.
Afinal chegaste, te tenho diante de mim.
Surpreso, percebo, que não me reconheces
assim como de pronto reconheço a ti.
Me olhas, algo desconfiada,
dialogas com as tagarelices do teu coração.
Sentes sem saber dizer, dizes sem saber sentir.
Sabes que já estiveste em sonhos,
sonhos que não eram os teus
mas que neles te sentias tão feliz,
como quem tivesse estado
naqueles que foram os meus.
Quem acordou e quem ainda dorme,
quem ainda sonha e quem em vigília espera
oh, minha senhora inesperada, já me colocas em apuros
assim, em tua tão breve estada:
como é que eu poderia, com tão pouca poesia
a ti, fazer sonhar e manter-te acordada?