Pode entrar menina,
pode entrar e fica assim não…
Fica assim não, que não vale a pena.
A vida é pequena, passa tão ligeira,
e a boniteza dela, não tá no grosso
da sua apresentação.
Nos entremeios, que são poucos,
e no fundo-fundo de tudo-tudo,
é que mora, escondidinho,
o gosto forte do porque viver.
Mas as vezes é assim mesmo…
Depende do jeito de se acordar.
Se no sono, a alma se despregou do corpo
e no sonho voou pra muito longe,
andou por lugares muito bonitos,
e fez tudo que tinha vontade de fazer,
quando é de manhã, por certo,
pró corpo ela não há de querer voltar…
Então, a gente tem que encarnar ela de novo.
Mandar ela com força, voltar pró cerne,
do cerne, que é o dentro da gente,
a partir de onde, a gente sabe mandar.
Fica assim não menina,
que não vale a pena.
Pois não é a alma que é pequena.
Mal criada e rebelde, isso, as vezes, ela é.
As vezes. Pró nosso bem, ela é.
Más, pequeno, pequeno mesmo,
é assim, quase sempre, este mundo
em que se faz nossa sina viver.
Labutar todo dia,
fazê lição e aprendê…
Mundo estreito, mundo raso
Mundo duído, mundo doidio.
De pouca consideração.
Por isso não há que se estranhar
de que, as vezes, a alma não queira ficar.
A alma ? A alma, só quer voar,
viver no que é bem bom,
que é bom demais.
Espairecer e espraiar.
Que é disso que alma sabe,
que é de disso, que a alma entende.
Que é disso que a alma gosta,
a alma, menina, a alma só quer
sonhar!