Hiância

matraga poesias fevereiro 8, 2018

noite de lua cheia no céu
eu lobisomem, jejuo palavras
e lanço uivos densos e enigmáticos
a quem possa se interessar.
sigo os rastros mais ancestrais
do meu desejo quando criança
muito pequena, mal aprendera a andar.
neles persigo, como quimera
por quilômetros a fio, na estrada,
sem me saber perdido
o barulho da moto do meu tio
que não me levou para passear.
eu que queria tanto, tanto, tanto…
deixo-me ir por aquele caminho
e por aquele som do motor
que já não escuto mais.
sigo com a certeza de que, ao fim dele,
um prazer imenso, me espera, sem igual…
no coração infantil, não existem duvidas
os meus passos miúdos e perseverantes
vão por caminhos que hão de alcançar
o pote de ouro que o arco-iris
reserva para quem nele acreditar.
amanhã, com ânimo, pego a estrada
e vou em busca de ti, companheira
tu que tão distante de mim estás.
distante mas não o bastante
para que eu desista de te procurar.
hoje é noite de lua cheia
e os meus uivos lancinantes,
a quem possa se interessar,
uivam por ti, como um dia uivei
pela moto do meu tio
pelo gosto de caminhar
pela possibilidade de encontrar.