eu te peço licença
por invadir sua caixa postal
com poemas da Adelia Prado,
aquela poetisa mineira
tão dona de casa e tão mineira,
que descobri que você
tão dona de casa e tão mineira
ainda não conhecia.
nem era essa a minha intenção.
mas li um, e achei que você ia gostar.
li outro, e pensei que você ia gostar mais ainda.
e foi assim, de um em um,
pensando em despertar seu gosto
que eles foram se enfileirando
vários, como um exercito de palavras,
cobiçosas de te provocar.
pensando que, se você gostasse
da poesia da Adelia Prado,
se a apreciasse, tanto quanto eu a aprecio,
então era de mim que você gostaria.
mas, o que tenho eu a ver com a poesia da Adelia Prado?
de onde me vem essa idéia maluca
de que se você gostasse da poesia da Adelia Prado
também haveria de gostar de mim?
quando cheguei a essa parte
em que o pensamento refletido
faz perguntas sobre as coisas mais surdas,
que se passam dentro da gente,
ainda bem, a invasão já havia se consumado.
as mãos ligeiras, que nos cliques do teclado,
de site em site, encontraram e separaram
para ti, os tesouros da lavra da Dona Doida
sabem, aparentemente, mais de mim
do que eu proprio.
deixo-te então com a sua caixa postal
invadida pela poesia da Adelia Prado
e com todas as interrogações que só ela
é capaz de provocar.
deixo-te o intenso dessa palavra feminina
mãe, mulher, dona de casa, santa e puta
em sua condição mais nua
palavra poesia que edifica no cotidiano
e transforma o mais simples e mais frugal
em um espetáculo de pura magia.