Invejo aos que se satisfazem com o sucesso profissional,
que se acham muito bons no que fazem,
e pensam que isso é o máximo.
Invejo aos que contentam com o amor dedicado de uma bela mulher,
e imaginam que este é o melhor destino que alguém possa almejar.
Invejo aos que mergulham de cabeça
em algum credo ou alguma fé que calafeta os buracos de sua alma.
Invejo aos que se saciam,
ainda que intermitentemente com alguma droga da moda
ou com a moda do uso de alguma droga eletrônica ou tecnológica
que projeta sons, imagens ou um espetáculo completo de cada vez.
Invejo aos que gozam com suas maquinas e motores carros, motos, lanchas ou jetski
ou sonham pilotar um dia um foguete espacial.
Invejo os artifícios sedativos que fazem parecer que o absurdo possa ter algum sentido.
“Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.”
(Alvaro de Campos)
Invejo não ser outra pessoa qualquer que não fosse essa,
que não consegue se esquecer, do que é,
que não sabe não saber o tempo todo, todo o tempo, de si.
Me exploda consciência cruel!
Me dissolva no ácido desta lucidez fiat tenebras,
apague-se a luz e deixe que essa alma invejosa possa dormir em paz.