Venha meu amor,
Venha comigo, mas venha devagar:
na noite deslizemos,
para não acordar as estrelas.
Conheçamos companheiros,
os mistérios mais profundos
de Deus tornado homem e mulher.
Eu te dispo. Tu me despes.
E nossa nueza crua
assim tão nua,
brilha mais do que a lua.
Venha meu amor;
devagar bebamos a doçura
que dos olhos,
este momento mágico exala.
Eu te quero e tu me queres,
mas não nos movamos;
que assim tornados estátuas
perpetuamos segredos,
continuamos no gesto
de minha mão que toca ao rosto teu.
E rola na tua face
uma lágrima solitária
com que teus olhos me brindam
brotando da emoção.
E tremem os meus lábios,
que a sorvem,
sem no teu rosto tocar.
Venha meu amor;
que a morte não te assuste
Morramos para tudo
neste momento final.
E agora é a tua mão,
que com timidez, ao meu corpo toca,
e deslizando docemente,
falas ao meu coração:
– Sim, contigo eu vou amor meu,
da morte não tenho medo
que, morrer é neste instante,
é sublimidade da paixão.
E o seu corpo ao meu se cola.
Perdidos estão os contornos,
não sabemos mais quem somos,
Não sabemos, tu e eu.
E o teu corpo assim tão próximo,
o teu seio tão macio
o teu colo, teus cabelos
o perfume que exalas…
Tudo fala e tudo cala.
Outra vez quedamos imóveis.
Fechas teus olhos. Fecho aos meus.
E nos abismos do ser
em serenidade mergulhamos.
Tudo é paz. Tudo é silêncio
Tudo é só verdade.
Assim, as almas libertas
em proximidade tão distante
voam, voam pelos céus,
e nem percebem a fusão
que se operou neste instante.
Não sei mais da minha carne
e nem tu sabes da tua
não sei mais do meu ser
e tu não sabes do teu.
E assim mantidos imóveis,
perdidos num tempo
que não passa,
descobrimos a eternidade:
Tu me sabes e eu te sei!
Nada é o que nos resta
O milagre aconteceu!