Foi um tempo de crise,
foi um tempo sem sol,
foi um tempo sem dó.
Quem o viveu é que pode saber.
Os gestos bons se tomaram escassos.
As palavras congeladas nas bocas.
Fúria e confusão, rodopiavam as mentes.
A desconfiança instaurou-se como regime dos homens.
As crianças mudas, caladas, estampavam nos olhos, pavor.
Muitos tiveram desejos de morrer,
outros tantos morreram.
Quantos pelos caminhos caídos
amontoados como restos usados
que não têm mais valor.
As cinzas cobriram as árvores,
nem lembrança das flores restou.
O medo profundo, corroeu um resto de humanidade
que teimava em ficar,
toda memória de calor, de afeto ou ternura
dissolveu-se num vapor frio, pegajoso e úmido
que a tudo e a todos uniu,
num cemitério geral.
Foi um tempo de crise.
Foi um tempo sem sol.
Sem sol, sem esperança e sem dó.